Indústria de Jogos

Vale a pena ser original?

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Vale a pena ser original?

Nas últimas semanas todos gamers, em todo o mundo, foram inundados com textos, reviews, gameplays, etc do famigerado Flappy Bird. O jogo super simples que teve grande sucesso a ponto do seu criador não saber lidar com a fama e dinheiro e tirar seu jogo do mercado, o que deixou uma legião de fãs desamparados e gerou um monte de bizarrices como gente vendendo iPhones com o jogo instalado por mais de 2000 dólares(!). Grande bobagem, já que qualquer um pode criar seu próprio Flappy Bird com o Flappy Generator.

Não vou entrar aqui no mérito do jogo ou qualquer outro critério técnico, já que todos sabemos que o jogo é tremendamente simples, dá para fazer em uma tarde chuvosa de domingo, etc, mas gostaria de chamar atenção para um fenômeno que é recente na indústria de jogos e talvez tenha passado despercebido por algumas pessoas: É triste notar, mas parece que a grande maioria dos jogos que estão sendo feitos nesse momento, estão sendo feitos somente como uma forma de distribuir propaganda.

Vejam que ganhar dinheiro com propaganda em jogos não é necessariamente ruim, é até um modo bastante razoável de sobreviver no meio. O problema acontece quando jogos são colocados no mercado com uma única função de vincular propaganda ao maior número de pessoas possível e somente isso. Não há a menor preocupação com game design, roteiro, arte, personagens, etc. e ainda pior, parece que ninguém mais se importa com experiências originais!

Então estamos diante de um triste fato: Como a maioria das pessoas gosta de jogar mecânicas que já são tradicionais e conhecidas, existe uma certa barreira com jogos que apresentam uma nova mecânica. Porém, quando um jogo traz uma nova mecânica de sucesso (ou pelo menos implementada de forma competente) esse jogo é visto não mais como um sucesso em si e sim como um novo canal para distribuir mais propaganda. Isso é diferente do caso daquelas pessoas que só jogam jogos que estão “pra lã da quarta versão”, ou seja, pessoas que são resistentes a qualquer nova franquia (sim, isso é para você que só que jogar Pokemon CCXXXIV e Final Fantasy MCMLXXXVI).

Nesse momento entra em ação um dos flagelos da indústria de games – As empresas de clonagem. Esses parasitas buscam a todo momento jogos que estão “bombando” em qualquer plataforma e de pronto começam a criar um clone mais próximo possível daquele jogo, que será distribuído de graça, com a única finalidade de divulgar ainda mais propaganda.

Não acredita? Observe uma empresa como a King. Ela tem todas as condições técnicas e financeiras de criar jogos originais, mas no fim do dia acaba sendo um negócio MUITO melhor esperar que alguém faça isso em algum lugar do mundo e no momento que algum jogo fizer sucesso, copiar na cara dura dando uma versão gratuita de praticamente o mesmo jogo e faturar em cima da propaganda. Como normalmente o jogo copiado é de uma produtora independente, ele vai ver sua receita ser bastante reduzida sem poder fazer nada. Se tiver sorte de acumular algum bom dinheiro pode ir em busca de um bom advogado para tentar tirar seus clones do ar (lembram da Zynga?) mas isso é muito raro de acontecer. Até lá o estrago já estará feito.

Tenho que dizer que até mesmo você, em casa, pode participar desse mercado negro e faturar uma graninha. Faça uma busca no google por “reskinning” e dê uma olhada. Tem livros e até um tumblr que poderá te manter antenado com as ofertas de trabalho no setor. Dá para faturar até US$ 1000 com um clone de um jogo qualquer e assim você pode até conseguir dinheiro para aquela sua ideia que você vem pensando a anos! …mas você vai mesmo querer criar algo original?

 

jalf

José Antonio Leal de Farias (JALF)
Conteúdo originalmente postado no site PXB.NET.BR e republicado com autorização do autor, em complemento ao editorial "vamos tirar o game da gaveta".

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Mauricio Alegretti

Mauricio Alegretti ("Malegra") é o fundador do site e comunidade Indústria de Jogos. Cria jogos digitais por paixão e profissão há mais de três décadas, que foram publicados em diversas plataformas e consoles. Foi diretor das associações Abragames, IGDA e Acigames, co-fundou e dirigiu o estúdio Smyowl e a comunidade Portalxbox, foi Microsoft MVP em Xbox e Kinect, e hoje é CTO na Ortiz Gaming, uma multinacional no setor de jogos para cassinos.