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Algumas reflexões sobre o Google Stadia

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Algumas reflexões sobre o Google Stadia

Salve, salve, desenvolvedores de jogos!

Neste dia 19 de Março de 2019, vivemos mais um daqueles dias que certamente ficará marcado na história do mercado de consumo e desenvolvimento de jogos, com o anúncio pelo Google durante a Game Developers Conference 2019 de sua plataforma de streaming de jogos Stadia. Se você não viu a palestra do anúncio ainda, o vídeo segue aí embaixo (bem longo, mas compensa):

Alguns pontos me chamaram bastante atenção nesta história toda, os quais gostaria de compartilhar e refletir com vocês. Vamos lá?

Primeiramente, considerei muito emblemático o anúncio acontecer em um evento de desenvolvedores de jogos, e não nos palcos costumeiros de anúncios de outras empresas no passado - como a Electronic Entertainment Expo (E3), ou a Consumer Electronic Show (CES). A mensagem, a meu ver, é clara: queremos fazer o olho dos desenvolvedores de jogos brilhar primeiro. "Construa, e eles virão", em um mercado onde o conteúdo é rei como o nosso, faz todo sentido.

E olhos certamente brilharão. Para quem ainda não notou, a possibilidade de escala de uma plataforma como o Stadia é sem precedentes. Por mais que nós os amemos, os consoles ainda apresentam uma barreira de entrada gigante no acesso ao conteúdo. Mesmo nas plataformas mobile a combinação tempo de download e espaço de armazenamento, em um mundo onde a decisão de cancelar uma instalação de um jogo ou nem sequer começar é tomada em cinco segundos, ainda limita a quantidade total de jogadores. E, ainda assim, vemos um fenômeno como o Fortnite alcançar 10 milhões de jogadores concorrentes - em que números uma plataforma de acesso instantânea poderá chegar?

Também me chamou atenção a aproximação (ainda que óbvia) da Stadia com o Youtube. Podemos esperar um verdadeiro bombardeio de publicidade na plataforma - jogue agora! será certamente o principal bordão dos primeiros cinco segundos de cada vídeo (ou quem sabe, anúncios para o "Jogo da Betina - ganhe 1 milhão"). E nisto entendo que veremos um desafio para nós, desenvolvedores independentes. Se por um lado, teremos acesso a potenciais bilhões de jogadores no planeta (o Google citou 2 bilhões na apresentação, e dá para acreditar), por outro iremos todos competir por atenção como nunca - o que virá fácil, irá fácil e uma consequência óbvia será uma verdadeira batalha para prender a atenção dos jogadores nos primeiros minutos de jogos. Lembram-se das estratégia de retenção nas primeiras horas para evitar refund da Steam? 

Outro ponto que achei interessante, foi o quanto algumas pessoas se mostraram céticas quanto a viabilidade técnica da plataforma, principalmente aqui no Brasil. Pois em minha opinião, se há algo que se pode garantir com certeza na tecnologia, é que ela certamente não irá andar para trás. Se hoje de fato talvez não tenhamos a infraestrutura necessária, por outro lado há não tanto tempo assim também não tínhamos para streaming de vídeos - e estão aí Netflix e o próprio Youtube destruindo a televisão. Além disto, se hoje há alguma empresa que tem a capilaridade necessária de datacenters locais para fazer isto funcionar bem, é a Google - além de Microsoft, Amazon e Facebook (que não devem demorar para entrar nesta briga).

Por fim, foi interessante notar o quanto o timing de produtos e tecnologias pode influenciar na percepção do consumidor. Não pude deixar de lembrar o desastroso anúncio do Xbox One em 2013, com uma proposta de plataforma sempre conectada à internet onde as licenças digitais iriam prevalecer sobre a mídia física. A mensagem foi tão mal recebida que levou à uma verdadeira humilhação pública da empresa pela rival Sony (e talvez à maior trollagem da história de uma empresa de jogos, no vídeo abaixo):

Genial e hilário para a época, mas... pelo visto, em pouco tempo coisa do passado até para a própria Sony. A proposta do Xbox One não era oferecer um streaming (ainda), mas já se preparava o terreno para o Game Pass e as mudanças que devem culminar em 2019 no projeto xCloud, e no Xbox assumindo definitivamente sua vocação de plataforma online, além de apenas um dispositivo. A própria Microsoft enquanto empresa se transformou muito de lá para cá, se reinventou, e se de fato as especulações de uma possível parceria com a Nintendo para trazer o streaming de jogos de Xbox para o Switch for verdadeira, será criado um duelo de gigantes no nosso mercado.

O fato é que, estamos vivendo um ponto de inflexão em nossa indústria, e se tem algo que a história nos mostra, é que os pontos de inflexão sempre criam oportunidades. Vamos torcer (e trabalhar) para que algumas delas caiam nas mãos de estúdios brasileiros.

E você, o que achou do anúncio do Google Stadia? Deixe seu comentário abaixo e... forte abraço!

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Mauricio Alegretti

Mauricio Alegretti ("Malegra") é o fundador do site e comunidade Indústria de Jogos. Cria jogos digitais por paixão e profissão há mais de três décadas, que foram publicados em diversas plataformas e consoles. Foi diretor das associações Abragames, IGDA e Acigames, co-fundou e dirigiu o estúdio Smyowl e a comunidade Portalxbox, foi Microsoft MVP em Xbox e Kinect, e hoje é CTO na Ortiz Gaming, uma multinacional no setor de jogos para cassinos.